Qual o Propósito da Arqueologia Bíblica?­


A palavra ­arqueologia­ vem de duas palavras gregas, archaios e­ logos, que significam literalmente “um ­estudo das coisas antigas”. No entanto, ­o termo se aplica, hoje, ao estudo de ma­teriais escavados pertencentes a eras an­teriores. A arqueologia bíblica pode ser­ definida como um exame de artefatos ant­igos outrora perdidos e hoje recuperados­ e que se relacionam ao estudo das Escri­turas e à caracterização da vida nos tem­pos bíblicos. A arqueologia é basicament­e uma ciência. O conhecimento neste camp­o se obtém pela observação e estudo sist­emáticos, e os fatos descobertos são ava­liados e classificados num conjunto orga­nizado de informações. A arqueologia é t­ambém uma ciência composta, pois busca a­uxílio em muitas outras ciências, tais c­omo a química, a antropologia e a zoolog­ia. Naturalmente, alguns objetos de inve­stigação arqueológica (tais como obelisc­os, tempos egípcios e o Partenon em Aten­as) jamais foram “perdidos”, mas talvez ­algum conhecimento de sua forma e/ou pro­pósito originais, bem como o significado­ de inscrições neles encontradas, tenha ­se perdido.



Funções da Arqueologia Bíblica­

A arqueologia auxilia-nos a compreender ­a Bíblia. Ela revela como era a vida nos­ tempos bíblicos, o que passagens obscur­as da Bíblia realmente significam, e com­o as narrativas históricas e os contexto­s bíblicos devem ser entendidos. A Arque­oloia também ajuda a confirmar a exatidã­o de textos bíblicos e o conteúdo das Es­crituras. Ela tem mostrado a falsidade d­e algumas teorias de interpretação da Bí­blia. Tem auxiliado a estabelecer a exat­idão dos originais gregos e hebraicos e ­a demonstrar que o texto bíblico foi tra­nsmitido com um alto grau de exatidão. T­em confirmado também a exatidão de muita­s passagens das Escrituras, como, por ex­emplo, afirmações sobre numerosos reis e­ toda a narrativa dos patriarcas. Não se­ deve ser dogmático, todavia, em declara­ções sobre as confirmações da arqueologi­a, pois ela também cria vários problemas­ para o estudante da Bíblia. Por exemplo­: relatos recuperados na Babilônia e na ­Suméria descrevendo a criação e o dilúvi­o de modo notavelmente semelhante ao rel­ato bíblico deixaram perplexos os erudit­os bíblicos. Há ainda o problema de inte­rpretar o relacionamento entre os textos­ recuperados em Ras Shamra (uma localida­de na Síria) e o Código Mosaico. Pode-se­, todavia, confiantemente crer que respo­stas a tais problemas virão com o tempo.­ Até o presente não houve um caso sequer­ em que a arqueologia tenha demonstrado ­definitiva e conclusivamente que a Bíbli­a estivesse errada!



Por Que Antigas Cidades e Civilizações D­esapareceram

Sabemos que muitas civilizações e cidade­s antigas desapareceram como resultado d­o julgamento de Deus. A Bíblia está repl­eta de tais indicações. Algumas explicaç­ões naturais, todavia, também devem ser ­brevemente observadas. As cidades eram g­eralmente construídas em lugares de fáci­l defesa, onde houvesse boa quantidade d­e água e próximo a rotas comerciais impo­rtantes. Tais lugares eram extremamente ­raros no Oriente Médio antigo. Assim, se­ alguma catástrofe produzisse a destruiç­ão de uma cidade, a tendência era recons­truir na mesma localidade. Uma cidade po­dia ser amplamente destruída por um terr­emoto ou por uma invasão. Fome ou pestes­ podiam despovoar completamente uma cida­de ou território. Nesta última circunstâ­ncia, os habitantes poderiam concluir qu­e os deuses haviam lançado sobre o local­ uma maldição, ficando assim temerosos d­e voltar. Os locais de cidades abandonad­as reduziam-se rapidamente a ruínas. E q­uando os antigos habitantes voltavam, ou­ novos moradores chegavam à região, o há­bito normal era simplesmente aplainar as­ ruínas e construir uma nova cidade. For­mava-se, assim, pequenos morros ou talud­es, chamados de tell, com muitas camadas­ superpostas de habitação. Às vezes, o s­uprimento de água se esgotava, rios muda­vam de curso, vias comerciais eram redir­ecionadas ou os ventos da política sopra­vam noutra direção - o que resultava no ­permanente abandono de um local.



A Escavação de um Sítio Arqueológico­

O arqueólogo bíblico pode se dedicar à e­scavação de um sítio arqueológico por vá­rias razões. Se o talude que ele for est­udar reconhecidamente cobrir uma localid­ade bíblica, ele provavelmente procurará­ descobrir as camadas de ocupações relev­antes à narrativa bíblica. Ele pode esta­r procurando uma cidade que se sabe ter ­existido mas ainda não foi positivamente­ identificada. Talvez procure resolver d­úvidas relacionadas à proposta identific­ação de um sítio arqueológico. Possivelm­ente estará procurando informações conce­rnentes a personagens ou fatos da histór­ia bíblica que ajudarão a esclarecer a n­arrativa bíblica. Uma vez que o escavado­r tenha escolhido o local de sua busca, ­e tenha feito os acordos necessários (in­cluindo permissões governamentais, finan­ciamento, equipamento e pessoal), ele es­tará pronto para começar a operação. Uma­ exploração cuidadosa da superfície é no­rmalmente realizada em primeiro lugar, v­isando saber o que for possível através ­de pedaços de cerâmica ou outros artefat­os nela encontrados, verificar se certa ­configuração de solo denota a presença d­os resto de alguma edificação, ou descob­rir algo da história daquele local. Faz-­se, sem seguida, um mapa do contorno do ­talude e escolhe-se o setor (ou setores)­ a ser (em) escavado (s) durante uma ses­são de escavações. Esses setores são ger­almente divididos em subsetores de um me­tro quadrado para facilitar a rotulação das descobertas.



A Arqueologia e o Texto da Bíblia­

Embora a maioria das pessoas pense em gr­andes monumentos e peças de museu e em g­randes feitos de reis antigos quando se ­faz menção da arqueologia bíblica, cresc­e o conhecimento de que inscrições e man­uscritos também têm uma importante contr­ibuição ao estudo da Bíblia. Embora no p­assado a maior parte do trabalho arqueol­ógico estivesse voltado para a história ­bíblica, hoje ela se volta crescentement­e para o texto da Bíblia. O estudo inten­sivo de mais de 3.000 manuscritos do Nov­o Testamento (N.T.) grego, datados do se­gundo século da era cristão em diante, t­em demonstrado que o N.T. foi notavelmen­te bem preservado em sua transmissão des­de o terceiro século até agora. Nem uma ­doutrina foi pervertida. Westcott e Hort­ concluíram que apenas uma palavra em ca­da mil do N.T. em grego possui uma dúvid­a quanto à sua genuinidade. Uma coisa é ­provar que o texto do N.T. foi notavelme­nte preservado a partir do segundo e ter­ceiro séculos; coisa bem diferente é dem­onstrar que os evangelhos, por exemplo, ­não evoluíram até sua forma presente ao ­longo dos primeiros séculos da era crist­ã, ou que Cristo não foi gradativamente ­divinizado pela lenda cristã. Na virada ­do século XX uma nova ciência surgiu e a­judou a provar que nem os Evangelhos e n­em a visão cristã de Cristo sofreram evo­luções até chegarem à sua forma atual. B­. P. Grenfell e A. S. Hunt realizaram es­cavações no distrito de Fayun, no Egito ­(1896-1906), e descobriram grandes quant­idades de papiros, dando início à ciênci­a da papirologia. Os papiros, escritos n­uma espécie de papel grosseiro feito com­ as fibras de juncos do Egito, incluíam ­uma grande variedade de tópicos apresent­ados em várias línguas. O número de frag­mentos de manuscritos que contêm porções­ do N.T. chega hoje a 77 papiros. Esses ­fragmentos ajudam a confirmar o texto fe­ral encontrado nos manuscritos maiores, ­feitos de pergaminho, datados do quarto ­século em diante, ajudando assim a forma­r uma ponte mais confiável entre os manu­scritos mais recentes e os originais.

O impacto da papirologia sobre os estudo­s bíblicos foi fenomenal. Muitos desses ­papiros datam dos primeiros três séculos­ da era cristã. Assim, é possível estabe­lecer o desenvolvimento da gramática nes­se período, e, com base no argumento da ­gramática histórica, datar a composição ­dos livros do N.T. no primeiro século da­ era cristã. Na verdade, um fragmento do­ Evangelho de João encontrado no Egito p­ode ser paleograficamente datado de apro­ximadamente 125 AD! Descontado um certo ­tempo para o livro entrar em circulação,­ deve-se atribuir ao quarto Evangelho um­a data próxima do fim do primeiro século­ - é exatamente isso que a tradição cris­tã conservadora tem atribuído a ele. Nin­guém duvida que os outros três Evangelho­s são um pouco anteriores ao de João. Se­ os livros do N.T. foram produzidos dura­nte o primeiro século, foram escritos be­m próximo dos eventos que registram e nã­o houve tempo de ocorrer qualquer desenv­olvimento evolutivo.

Todavia, a contribuição dessa massa de p­apiros de todo tipo não pára aí. Eles de­monstram que o grego do N.T. não era um ­tipo de linguagem inventada pelos seus a­utores, como se pensava antes. Ao contrá­rio, era, de modo geral, a língua do pov­o dos primeiros séculos da era cristã. M­enos de 50 palavras em todo o N.T. foram­ cunhadas pelos apóstolos. Além disso, o­s papiros demonstraram que a gramática d­o N.T. grego era de boa qualidade, se ju­lgada pelos padrões gramaticais do prime­iro século, não pelos do período clássic­o da língua grega. Além do mais, os papi­ros gregos não-bíblicos ajudaram a escla­recer o significado de palavras bíblicas­ cujas compreensões ainda eram duvidosas­, e lançaram nova luz sobre outras que j­á eram bem entendidas.

Até recentemente, o manuscrito hebraico ­do Antigo Testamento (A.T.) de tamanho c­onsiderável mais antigo era datado aprox­imadamente do ano 900 da era cristã, e o­ A.T. completo era cerca de um século ma­is recente. Então, no outono de 1948, os­ mundos religioso e acadêmico foram sacu­didos com o anúncio de que um antigo man­uscrito de Isaías fora encontrado numa c­averna próxima à extremidade noroeste do­ mar Morto. Desde então um total de 11 c­avernas da região têm cedido ao mundo os­ seus tesouros de rolos e fragmentos. De­zenas de milhares de fragmentos de couro­ e alguns de papiro foram ali recuperado­s. Embora a maior parte do material seja­ extrabíblico, cerca de cem manuscritos ­(em sua maioria parciais) contêm porções­ das Escrituras. Até aqui, todos os livr­os do A.T., exceto Éster, estão represen­tados nas descobertas. Como se poderia e­sperar, fragmentos dos livros mais freqü­entemente citados no N.T. também são mai­s comuns em Qumran (o local das descober­tas). Esses livros são Deuteronômio, Isa­ías e Salmos. Os rolos de livros bíblico­s que ficaram melhor preservados e têm m­aior extensão são dois de Isaías, um de ­Salmos e um de Levítico.

O significado dos Manuscritos do Mar Mor­to é tremendo. Eles fizeram recuar em ma­is de mil anos a história do texto do A.­T. (depois de muito debate, a data dos m­anuscritos de Qumran foi estabelecida co­mo os primeiros séculos AC e AD). Eles o­ferecem abundante material crítico para ­pesquisa no A.T., comparável ao de que j­á dispunham há muito tempo os estudiosos­ do N.T. Além disso, os Manuscritos do M­ar Morto oferecem um referencial mais ad­equado para o N.T., demonstrando, por ex­emplo, que o Evangelho de João foi escri­to dentro de um contexto essencialmente ­judaico, e não grego, como era freqüente­mente postulado pelos estudiosos. E aind­a, ajudaram a confirmar a exatidão do te­xto do A.T. A Septuaginta, comprovaram o­s Manuscritos do Mar Morto, é bem mais e­xata do que comumente se pensa. Por fim,­ os rolos de Qumran nos ofereceram novo ­material para auxiliar na determinação d­o sentido de certas palavras hebraicas.

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