MALAQUIAS: – A sacralidade da família
VERDADE PRÁTICA
É da vontade expressa de Deus que levemos
a sério o nosso relacionamento com Ele, com a família e com a sociedade.
INTERAÇÃO
Comumente isolamos um assunto de determinado contexto
literário ignorando o tema central daquela obra. O livro de Malaquias é o
exemplo perfeito disso. Quando falamos nele, pensamos logo em “dízimo”. É como
se “Malaquias” e “dízimo” fossem termos amalgamados. No entanto, veremos que o
assunto predominante do profeta Malaquias não é o dízimo (este apenas é tratado
num contexto de corrupção sacerdotal e da nação), mas contrariamente, é o
relacionamento familiar e civil entre o povo judeu que constituem o seu tema
principal.
INTRODUÇÃO
Palavra Chave -
Família: Pessoas
aparentadas, que vivem, em geral, na mesma casa, particularmente o pai, a mãe e
os filhos.
No presente estudo, veremos que a mensagem
de Malaquias enfoca a sacralidade do relacionamento com o Altíssimo e com a
família. Durante o exílio na Babilônia, a idolatria de Judá fora
definitivamente erradicada. A questão agora era outra: o relacionamento do povo
com Deus e com a família. E tais relacionamentos precisavam ser encarados com
mais piedade e temor.
I. O LIVRO DE
MALAQUIAS
1.
Contexto histórico. O livro
não menciona diretamente o reinado em que Malaquias exerceu seu ministério.
Também não informa o nome do seu pai, nem o seu local de nascimento. Isso é
observável também nos livros de Obadias e Habacuque. Não obstante, há
evidências internas que permitem identificar o contexto político, religioso e
social do livro em apreço.
a) O governador de Judá. Jerusalém era governada por um pehah, palavra de origem
acádica traduzida por “príncipe” na ARC (Almeida Revista e Corrigida), ou
“governador”, na ARA e TB (1.8). O termo indica um governador persa e é
aplicado a Neemias (Ne 5.14). O seu equivalente na língua persa é tirshata (“tirsata, governador”, cf. Ed 2.63;
Ne 7.65; 8.9; 10.1). A profecia mostra que o templo de Jerusalém já havia sido
reconstruído e a prática dos sacrifícios, retomada (1.7-10).
b) A indiferença religiosa. As principais denúncias de Malaquias
são contra a lassidão e o afrouxamento moral dos levitas (1.6); o divórcio e o
casamento com mulheres estrangeiras (2.10-16); e o descuido com os dízimos
(3.7-12). Tudo isso aponta para o período em que Neemias ausentou-se de
Jerusalém (Ne 13.4-13,23-28). O primeiro período de seu governo deu-se entre os
anos 20 e 32 do rei Artaxerxes (Ne 5.14) e equivale a 445-433 a.C.
2. Vida pessoal de Malaquias. A expressão “pelo ministério de
Malaquias” (1.1) é tudo o que sabemos sobre sua vida pessoal. A forma hebraica
do seu nome é mal’achi,
que significa “meu mensageiro”. A Septuaginta traduz por angelo sou (“seu mensageiro, seu anjo”). O termo
é ambíguo, pois pode referir-se a um nome próprio ou a um título (3.1). No
entanto, entendemos que Malaquias é o nome do profeta, uma vez que nenhum livro
dos doze profetas menores é anônimo. Por que com Malaquias seria diferente?
3. Estrutura e mensagem. A profecia começa com a palavra
hebraica massa — “peso, sentença pesada, oráculo,
pronunciamento, profecia” (1.1; Hc 1.1; Zc 9.1; 12.1). O discurso é um sermão
contínuo com perguntas retóricas que formam uma só unidade literária. São três
os seus capítulos na Bíblia Hebraica, pois seis versículos do capítulo quatro
foram deslocados para o final do capítulo três. O assunto do livro é a denúncia
contra a formalidade religiosa: prática generalizada com os fariseus e escribas
na época do ministério terreno de Jesus (Mt 23.2-7).
II. O JUGO
DESIGUAL
1.
A paternidade de Deus (2.10). A
ideia de que Deus é o Pai de todos os seres humanos é biblicamente válida. O
Antigo Testamento expressa que essa paternidade refere-se a Israel (Êx 4.22,23;
Jr 31.9; Os 11.1). A criação divina dá base para isso, embora não garanta uma
relação pessoal com Ele (At 17.28,29). Jesus, porém, fez-nos filhos de Deus por
adoção. Por isso, temos liberdade e direito de chamar ao Senhor de Pai (Mt 6.9;
Jo 1.12; Gl 4.6).
2. A deslealdade. O
termo “desleal” aparece cinco vezes nessa seção (2.10,11,14-16). Trata-se do
verbo hebraico bagad, que
significa “agir traiçoeiramente, agir com infidelidade”. Não profanar o
concerto dos pais — estabelecido no Sinai (2.10) que proíbe a união matrimonial
com cônjuges estrangeiros (Dt 7.1-4) — é uma instrução ratificada em o Novo
Testamento (2 Co 6.14-16,18). O profeta retoma essa questão em seguida.
3. O casamento misto (2.11). É a união matrimonial de um homem ou
uma mulher com alguém descrente. O profeta chama isso de abominação e
profanação. Os envolvidos são ameaçados de extermínio juntamente com toda a sua
família (2.12).
a) Abominação. O
termo hebraico para “abominação” é toevah e diz respeito a alguma coisa ou
prática repulsiva, detestável e ofensiva. A Bíblia aplica-o à idolatria, ao
sacrifício de crianças, às práticas homossexuais, etc. (Dt 7.25; 12.31; Lv
18.22; 20.13). Trata-se de um termo muito forte, mas o profeta coloca todos
esses pecados no mesmo patamar (2.11).
b) Profanação. Profano
é aquele que trata o sagrado como se fosse comum (Lv 10.10; Hb 12.16). A
“santidade do SENHOR”, que Judá profanou (2.11), diz respeito ao Segundo
Templo, pois em seguida o oráculo explica: “a qual ele ama”. A violação do
altar já fora denunciada antes (1.7-10). Mas aqui Malaquias considera o
casamento misto como transgressão da Lei de Moisés: “Judá [...] se casou com a
filha de deus estranho” (2.11b). A expressão indica mulher pagã e idólatra. E
mais adiante inclui também o divórcio (2.13-16).
III. DEUS ODEIA O DIVÓRCIO
1. O relacionamento
conjugal (2.11-13). Malaquias é o único livro da Bíblia que descreve o
efeito devastador do divórcio na família, na Igreja e na sociedade. As
lágrimas, os choros e os gemidos descritos aqui são das esposas judias
repudiadas. Elas eram santas e piedosas, mas foram injustiçadas ao serem
substituídas por mulheres idólatras e profanas. As israelitas não tinham a quem
recorrer. Nada podiam fazer senão derramar a alma diante de Deus. Por essa
razão, o Eterno não mais aceitou as ofertas de Judá (2.13). Isso vale para os
nossos dias. Deus não ouve a oração daqueles que tratam injustamente o seu
cônjuge (1 Pe 3.7). O marido deve amar a sua esposa como Cristo ama a Igreja
(Ef 5.25-29).
2. O
compromisso do casamento. Os votos solenes de fidelidade mútua entre os noivos numa
cerimônia de casamento não são um acordo transitório com data de validade, mas
“um contrato jurídico de união espiritual” (Myer Pearlman). O próprio Deus
coloca-se como testemunha desse contrato. Por isso, a ruptura de um casamento é
deslealdade e traição (2.14). A reação divina contra tal perfídia é
contundente.
3. A
vontade de Deus. A
construção gramatical hebraica do versículo 15 é difícil. Mas muitos entendem o
seu significado como defesa da monogamia. Deus criou apenas uma só
mulher para Adão, tendo em vista a formação de uma descendência
piedosa (2.15). A poligamia e o divórcio são obstáculos aos propósitos divinos.
É uma desgraça para a família! Por isso, o Altíssimo aborrece e odeia o
divórcio (2.16). Ele ordena que “ninguém seja desleal para com a mulher da sua mocidade”
(2.15).
CONCLUSÃO
A sacralidade do relacionamento familiar
deve ser levada em consideração por todos os cristãos. Todos devem levar isso a
sério, pois o casamento é de origem divina e indissolúvel, devendo, portanto,
ser honrado e venerado.
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