OBADIAS: O princípio da retribuição
VERDADE PRÁTICA
Obadias
mostra que a lei da semeadura e o princípio da retribuição constituem uma
realidade da qual ninguém escapará.
INTERAÇÃO
Soberania de Deus e livre-arbítrio são temas que geram
conflitos e levam muitos a tomadas de posições extremadas. Por conceder o
livre-arbítrio ao homem, Deus deixa de ser soberano? De maneira nenhuma! Isso
só denota o seu poder em criar uma pessoa que, sendo imagem e semelhança de
Deus, decide seguir ou não o caminho da Justiça. Mas é bem verdade que,
nalgumas circunstâncias, o Eterno intervém sem respeitar o arbítrio humano (Ml
1.2,3 cf. Rm 9.14-16). Há contradição nisso? De forma alguma! O homem continua
livre em seu arbítrio e Deus eternamente soberano. Nas Sagradas Escrituras, o
livre arbítrio e soberania divina são essencialmente dialogais.
INTRODUÇÃO
Palavra Chave -
Soberania: Qualidade
ou condição de soberano.
A soberania divina é um tema importante e atual, porque
lembra-nos que Deus está no controle de tudo e que toda ação humana está
exposta diante de seus olhos. A lei natural da semeadura ilustra o princípio da
retribuição no campo espiritual, e é justamente essa a mensagem que encontramos
no livro do profeta Obadias, em seus oráculos contra Edom.
I. A SOBERANIA
DE DEUS
1. Conceito. A soberania divina é o direito
absoluto de Deus governar totalmente as suas criaturas segundo a sua vontade
(Sl 115.3; Is 46.10). Calvinistas e arminianos concordam com esse conceito. A
diferença entre ambos acerca da soberania está apenas no exercício desta.
Segundo os calvinistas, não há
limite para o exercício desse governo, de modo que a vontade divina não pode
ser anulada. Os arminianos, por outro lado, admitem que, no exercício da
soberania divina, existe uma auto-limitação suficiente para permitir o
livre-arbítrio humano.
2. Livre-arbítrio. A vontade de Deus é que todos sejam salvos (Ez
18.23,32; Jo 3.16; 1 Tm 2.4; 2 Pe 3.9). Entretanto, não são poucos os que se
perderão. Tal acontece justamente pelo fato de sermos livres, autoconscientes
e, por isso, responsáveis diante de Deus por nossos atos (Ec 12.13,14). Isso se
explica pelo livre-arbítrio, e não significa negar a soberania divina. Trata-se
da liberdade humana. Deus é soberano em todo o Universo e, por seu amor e
poder, preserva sua criação até a consumação de todas as coisas (Ne 9.6; Hb
1.2,3).
II. O LIVRO DE OBADIAS
1. Contexto histórico. A vida pessoal de Obadias é desconhecida. O profeta
apresenta-se apenas com o seu nome, sem oferecer nenhuma informação adicional
(família e reinado sob o qual viveu e profetizou). Ele simplesmente diz: “Visão
de Obadias” (v.1).
A data em que exerceu o seu
ministério é uma das mais disputadas entre os estudiosos: vai de 848 a 460 a.C.
Tudo indica que os versículos 10 a 14 refiram-se à destruição de Jerusalém por
Nabucodonosor, rei de Babilônia, em 587 a.C. Portanto, qualquer data, nesse
período, como 585 a.C. por exemplo, é aceitável.
2. Estrutura e mensagem. Com apenas 21 versículos, Obadias é o livro mais curto do
Antigo Testamento. Excetuando-se a introdução, o seu estilo é poético. O texto
divide-se em três partes principais: a destruição de Edom (vv.1-9); a sua
maldade (vv.10-14) e o dia do Senhor sobre Edom, Israel e as demais nações
(vv.15-21).
O tema do livro é o julgamento
divino contra Edom. Obadias, porém, não é o único profeta incumbido de anunciar
a condenação dos filhos de Esaú (Is 21.11,12; Jr 49.7-22; Ez 25.1-14; Am
1.11,12; Ml 1.2-5).
3. Posição no Cânon. Em nossa Bíblia, Obadias situa-se entre Amós e Jonas. O
critério para a ordem desses livros é ainda desconhecido. Sabe-se, todavia, que
não foi baseado na cronologia. Há quem justifique tal posição pelo slogan “o
dia do SENHOR” (v.15; Am 5.20) e pela afirmação de que a casa de Jacó possuirá
a herdade de Edom (v.17; cp. Am 9.12).
Devido ao Cânon Judaico
considerar a coleção dos Doze Profetas um só livro, a citação de Obadias, em o
Novo Testamento, é apenas indireta.
III. EDOM, O PROFANO
1. Origem. Os
edomitas eram descendentes de Esaú. Por causa do guisado que Jacó usou para
comprar de Esaú a sua primogenitura, o nome da tribo passou a ser “Edom” que,
em hebraico, significa “vermelho” (Gn 25.30).
Eles povoaram o monte Seir (Gn
33.16; 36.8,9,21) e, rapidamente, transformaram-se em uma poderosa nação (Gn
36.1-43; Êx 15.15; Nm 20.14). Seu rei negou passagem a Israel por seu
território, quando os filhos de Jacó saíram do Egito e peregrinavam no deserto
a caminho da Terra Prometida. Mesmo assim, Deus ordenou aos israelitas que
tratassem os edomitas como a irmãos (Dt 23.7). Contudo, o ódio de Edom contra
Israel cresceu e atravessou séculos.
2. O Deus soberano. “Assim diz o Senhor JEOVÁ a respeito de Edom” (v.1). Esta
chancela destaca a soberania de Deus sobre os povos e reis da terra. Apesar de
Edom não ser reconhecido como povo de Deus, o Eterno tinha legítima autoridade
sobre ele.
3. Preparativos do assédio a
Edom (v.1c). A
expressão: “temos ouvido a pregação” parece indicar que Obadias falava em nome
de outros profetas (Jr 49.14). Ele ouviu o oráculo divino e soube de um
embaixador que fora enviado aos povos vizinhos para ajuntá-los em guerra contra
Edom. Tal embaixador não era profeta, mas um diplomata de alguma nação inimiga
dos edomitas.
4. O rebaixamento de Edom. No Antigo Testamento hebraico, existe um recurso retórico
que consiste em um acontecimento futuro, que é descrito como se já tivesse sido
cumprido. Por isso, o profeta emprega o verbo no passado: “Eis que te fiz
pequeno entre as nações” (v.2a).
Esse recurso é conhecido como perfeito
profético (não se trata de um perfeito gramatical especial). Seu emprego, aqui,
indica o cumprimento certeiro da ameaça quanto à sucessão dos dias e das
noites. Ou seja, o fato é descrito como já realizado, pois Deus reduzirá (como
de fato, reduziu) Edom a um povo insignificante e desprezível entre as nações,
até que este veio a desaparecer (v.2b).
5. O orgulho leva à ruína. Por viverem nas cavernas montanhosas de Seir (v.3), os
edomitas confiavam na segurança que lhes proporcionava a topografia de seu
território — uma fortaleza naturalmente inexpugnável. Edom não sabia que aquilo
que é inacessível ao homem é acessível a Deus (v.4). A arrogância humana é
insuportável, mas a soberba espiritual é repugnante; os que assim agem estão
destinados ao fracasso (Pv 16.18; 1 Pe 5.5).
IV. A RETRIBUIÇÃO DIVINA
1. O princípio da
retribuição. Retribuição
significa “pagar na mesma moeda”. Tal princípio acha-se na Lei de Moisés (Êx
21.23-25; Lv 24.16-22; Dt 19.21). Segundo Charles L. Feinberg, a passagem
compreendida entre os versículos 10 até 14 pode ser chamada de o “boletim de
ocorrência” dos crimes cometidos pelos edomitas contra os judeus. O acerto de
contas aproxima-se, e Deus fará com os edomitas o mesmo que eles fizeram a
Judá. Nessa profecia, Edom serve de paradigma para outras nações (e até
pessoas) que igualmente procedem (v.15).
2. O castigo de Edom. Os edomitas beberam e alegraram-se com a desgraça de seus
irmãos. Mas, agora, chegou a hora de eles receberem a sua paga na mesma moeda.
Os descendentes de Esaú provarão do cálice da ira divina para sempre (v.16). É
bom lembrar que esse princípio vale também para indivíduos (Jz 1.6,7; Hb 2.2).
É o princípio da semeadura (Os 8.7; Gl 6.7).
3. Esaú e Jacó (v.18). Os nomes “Sião” e “Jacó” (v.17) indicam Jerusalém e Judá,
respectivamente. E “José”, o Reino do Norte formado pelas dez tribos e, muitas
vezes, identificado como “Israel” e “Efraim” (Os 7.1). José, como pai de Efraim
(Gn 41.50-52), é usado para identificar os irmãos do Norte. Assim, a profecia
fala sobre a reunificação de Judá e Israel (Os 1.1; Ez 37.19). A metáfora de
Israel como fogo que consumirá a casa de Esaú indica a destruição total de
Edom. O orgulho e o ódio dos edomitas contra os seus irmãos judeus os levaram à
ruína definitiva.
CONCLUSÃO
Assim como ninguém pode desafiar as leis naturais
sem as devidas consequências, não é possível ignorar as leis espirituais e sair
ileso. A retribuição é inevitável, pois “tudo o que o homem semear, isso também
ceifará” (Gl 6.7). Só o arrependimento e a fé em Jesus podem levar o homem a
experimentar o amor e a misericórdia de Deus (2 Co 5.17).
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